Recalculando a rota
Esse é um caso de um colega que tinha problemas com um aluno em sala de aula. O que ele não sabia é que esse aluno precisava dele mais que suas aulas. Dar atenção ao aluno fez toda diferença para a escola cumprisse sua função.
HISTÓRIASOUTRAS
Olívia Alves
8/5/20242 min ler
Nunca me imaginei como o tipo de professor que se apegava aos alunos. Sempre vi a educação como uma troca de saberes, uma jornada em que eu seria o guia e eles os exploradores. Mas Pedro, um garoto do 7º ano, me mostrou que a sala de aula era muito mais do que isso. Era um campo minado de emoções, onde os conteúdos se entrelaçavam com medos, sonhos e, acima de tudo, a necessidade de ser visto.
Desde o primeiro dia, Pedro foi uma figura constante em minha mente. Um furacão de energia, capaz de transformar uma simples aula de coordenadas geográficas em uma partida de futebol improvisada. Não parava um minuto de mexer com seus amigos, e suas respostas, sempre acompanhadas de um sorriso sarcástico, me faziam questionar se eu havia escolhido a profissão certa.
Muitas vezes, ao final do dia, me pegava pensando: "Será que sou mesmo capaz de ensinar esse garoto? Será que a educação é para todos?". A dúvida me corroía por dentro.
Mas um dia, tudo mudou.
Era uma segunda-feira, início de aula. Enquanto eu me acomodava na mesa, tentando organizar meus materiais, senti uma mãozinha em meu ombro. Era Pedro, com os olhos cheios de preocupação.
"Professor, eu acho que não fui bem na prova", disse ele, a voz baixa e trêmula.
Aqueles olhos, antes tão brilhantes e cheios de vida, agora transmitiam um medo genuíno. Senti um aperto no coração. Aquele garoto que me desafiava a cada instante, agora me procurava por conforto.
"Pedro", respondi, colocando a mão em seu ombro, "você é um ótimo aluno. Não precisa se preocupar com a prova. O importante é aprender, e eu sei que você está aprendendo muito."
Ele se aproximou, como se quisesse se esconder em mim. Senti seu corpo pequeno tremer. Naquele momento, ele não era mais o garoto bagunceiro, mas sim um menino com medo de não ser bom o suficiente.
Com o tempo, fui descobrindo a história por trás daquele comportamento. Pedro tinha pais ausentes, dedicados ao trabalho e à natação do filho. Eles sonhavam com um futuro olímpico para ele, e a pressão era enorme. Na escola, Pedro buscava atenção, uma forma de se sentir visto e amado.
Aquele encontro me fez repensar minha forma de ensinar. A Geografia não era mais apenas uma matéria, mas uma ferramenta para conectar com meus alunos, para entender suas histórias e ajudá-los a crescer.
A partir daquele dia, comecei a dedicar mais tempo a Pedro. Conversávamos sobre seus interesses, seus medos e seus sonhos. Descobri que ele amava desenhar e que tinha um talento incrível para a arte. Comecei a incluir atividades artísticas em minhas aulas, e vi Pedro florescer.
A jornada de Pedro me mostrou que, por trás de cada comportamento desafiador, pode haver uma história de dor, de medo e de busca por afeto. E que, como educadores, temos o poder de transformar vidas.
Aquele menino me ensinou mais sobre a geografia da alma do que qualquer mapa poderia me mostrar.
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